quinta-feira, 23 de maio de 2013


Orientações para PAP - tema das relações amorosas e sexualidade, comportamentos de risco e educação sexual juvenil

Leituras agradáveis a partir de sites credíveis.
 
 


 
http://juventude.gov.pt/SaudeSexualidadeJuvenil/Sexualidade/NossoCorpo/Paginas/Afisiologiadasexualidade.aspx
Saúde e Sexualidade Juvenil


A Fisiologia da Sexualidade A Fisiologia da Sexualidade
A sexualidade


Os estudos sobre os processos subjacentes à fisiologia da sexualidade e à compreensão dos mecanismos nela implicados têm conhecido um acréscimo significativo ao longo dos últimos anos.
A fisiologia da sexualidade relaciona-se com os processos que dão origem às alterações físicas mediante determinados estímulos. Para uma resposta sexual adequada, é necessário que exista uma boa harmonia entre fatores físicos, psíquicos emocionais e afetivos mas aqui abordar-se-ão, sobretudo, as questões fisiológicas.
A nível físico, a resposta sexual humana é uma sucessão ordenada de ocorrências fisiológicas cujo objetivo é preparar os corpos para o encontro amoroso. Para que o ato sexual aconteça é necessário que os órgãos sexuais sofram transformações profundas do seu estado de repouso, na forma e na função. Estas transformações não se limitam somente à área genital.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) (2001:8) lança um conceito de sexualidade muito interessante: “A sexualidade é uma energia que nos motiva para encontrar amor, contacto, ternura e intimidade; ela integra-se no modo como sentimos, movemos, tocamos e somos tocados, é ser-se sensual e ao mesmo tempo ser-se sexual. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e, por isso, influencia também a nossa saúde física e mental”.
Fatores Físicos:
  • Fatores Vasculares (sistemas arterial e/ou venoso) – por exemplo, a ereção resulta da entrada de sangue nos corpos cavernosos do pénis, fazendo-o passar do estado de flacidez à ereção; também o aumento do tamanho do clitóris na mulher está relacionado com fenómenos vasculares;
  • Fatores Neurológicos - por exemplo, os centros cerebrais enviam os impulsos necessários para que se desencadeiem as reações hormonais e o aumento do fluxo sanguíneo na pélvis;
  • Fatores Musculares - por exemplo, as contrações rítmicas e involuntárias que se manifestam na resposta sexual devem-se a alguns músculos que participam ativamente quer na ereção ou na ejaculação no homem quer na fase do orgasmo da mulher, onde se verifica uma contração mais forte dos músculos da vagina.
  • Os fatores hormonais afetam com alguma intensidade o funcionamento de todo o corpo, despoletando a excitação e o desejo sexual, ou seja, a vontade de ter relações, tanto no homem como na mulher.
É fácil compreender que qualquer alteração a um destes níveis pode comprometer a resposta sexual em ambos os sexos.

Por outro lado, o equilíbrio psicológico é fundamental: a ansiedade, a tensão, a depressão, problemas interpessoais, podem ser um “inimigo” para uma resposta sexual adequada.

Fazer amigos… Como?
O desejo de ser aceite e admirado pelos outros assume, frequentemente, uma grande importância para a própria pessoa.

Cada um tem a sua forma de se exprimir. Tudo depende da própria pessoa, do momento, do assunto. Deves por isso tentar encontrar um momento especial para te aproximares de alguém que gostas e/ou simpatizas, seja através de um telefonema, carta, e-mail, sms ou mesmo pessoalmente, com a ajuda de um amigo/a em comum...

Podes iniciar uma conversa através de um tema simples ou geral, como um evento na escola ou na zona onde vivem, uma banda de música, sobre revistas ou qualquer outro interesse que possuas (cinema, desporto, outros). Podes elogiar ou dizer que gostavas de o(a) conhecer melhor, enfim, tentares de forma natural estabelecer uma aproximação.

Depois, a comunicação não verbal, como o olhar e o sorriso, irão ajudar-te a compreender se há uma empatia do outro lado ou não. Mas se não tentares nunca irás saber se valeu a pena. Se ninguém der o primeiro passo, nunca vão saber. As amizades crescem, modificam-se e podem ou não acabar. Não são sempre iguais...

Pode acontecer a tua/teu amiga/o ir viver para outra localidade ou o/a teu amigo/a que se apaixonou estar mais tempo na companhia da namorada/o.

O teu conceito de amizade pode ser bem diferente do conceito dos outros. Daí surgirem expectativas de um lado e do outro que podem ser diferentes! É preciso tempo para se perceber isto tudo. Importa não desistir à primeira dificuldade.

Aos/às teus/tuas amigos(as) também é importante dizer não, quando sentires que é necessário. Ser livre, independente e autónomo é também saber dizer que não concordas, que não farias assim, que não estás disponível para isto ou aquilo. Os teus/tuas amigos(as) vão compreender e aceitar-te cada vez melhor se souberem como tu és, verdadeiramente.



No teu grupo de amigos(as) sentes-te bem. Com eles/elas és livre e sentes que estás protegido(a). A tua autonomia é outra, diferente da que tens em casa. Sentes-te geralmente, seguro(a), longe dos olhares dos teus pais. Outras vezes, as coisas não são tão simples, há desafios que te são propostos. Os(as) amigos(as), o grupo em si, testa-se mutuamente.

Por vezes, sentes que és levado(a) a fazer algumas coisas que não desejas, só para agradar alguém ou ao grupo. Num grupo de amigos(as), não és obrigado(a) a falar daquilo que não sabes e mostrar um ar conhecedor quando afinal estás cheio de ansiedade. A confiança é importante!

A maior parte dos rapazes falam menos acerca dos seus sentimentos do que as raparigas. E não é por falta de vontade, mas porque os obstáculos vêm de longe. Desde muito pequenos que ouvem dizer: “Mostra que és homens!” o que muitas vezes significa: “esconde os teus sentimentos”. Mas eles existem e estão lá, os sentimentos, bem reais e por vezes faz mal é não os expressar!

Por outro lado, no grupo das raparigas isto acontece menos. Andam muito aos pares, falam de tudo! Mas a amizade também pode estar sujeita a algumas provas… É comum haver um grande distanciamento quando um(a) amigo(a) arranja namorado(a). Nessa altura, podes sentir-te mais abandonado(a). É normal quando duas pessoas estão muito apaixonadas focarem-se muito uma na outra e ser amigo também é saber aceitar.

Contudo, podes partilhar que sentes falta e saudades dele/dela. Como se costuma dizer, a conversar é que as pessoas se entendem. Não devemos ter ou esperar exclusividade sobre os(as) nossos(as) amigos(as); eles/elas podem ter outros(as) amigos(as) ou um amor especial. Aceitar isto é crescer, construir uma amizade que pode durar muitos anos.


Antes de te apaixonares ou de sentires amor parece que não consegues controlar a tua impaciência, o teu desejo de que alguém apareça e te “arrebate”, te deixe nas nuvens! Mas o amor não se encomenda! Aparece sem data marcada!

Há muitas formas de definir o amor. Tantas quantas as pessoas que o sentem! No entanto, é consensual que o amor é um conjunto de sentimentos e não um só. Esses sentimentos levam-nos a apreciar outra pessoa como alguém muito especial, com quem nos preocupamos mais do que com a maioria das pessoas que conhecemos. Uma maneira de distinguirmos o amor apaixonado do amor por um amigo(a), pode ser o desejo e/ou a atração sexual.




Quando nos apaixonamos por alguém começamos a sentir uma sensação diferente. Pode começar com uma sensação de angústia e de insegurança constante. Ao veres a pessoa de quem gostas sentes como se tivesses “borboletas na barriga” ou um aperto no peito sempre que recebes um e-mail ou um sms e o teu coração acelera.


Dizemos coisas que não nos “saem bem” e coramos quando recebemos um elogio ou um “piropo” da pessoa por quem nos estamos a apaixonar.
Adormecemos a pensar na pessoa. Quando acordamos, lá esta ela ou ele na nossa cabeça! Sorrimos ou ficamos ansiosos a pensar se a(o) vamos ver, quando, onde, como, o que vai acontecer?! O apetite, habitualmente, diminui e fantasiamos e imaginamos muito as situações. Fazemos coisas que nunca tínhamos julgado ser capazes de fazer.

Resumidamente, quem vê de fora uma pessoa que está apaixonada parece-lhe que está “no mundo da lua” e a “flutuar a dois palmos da terra!”

…Romeu sem Julieta
Sou eu assim sem você
Carro sem a estrada
Queijo sem goiabada
Sou eu assim sem você
Por que é que tem que ser assim
Se o meu desejo não tem fim
Eu te quero a todo instante nem mil alto-falantes vão poder
Falar por mim
Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver, mas o relógio ta de mal.
Comigo por que?
Por que?
Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver, mas o relógio ta de mal
Comigo!

“Sou Eu Assim Sem Você”
Adriana Calcanhoto

http://www.apf.pt/?area=003&mid=001&sid=002


 
boas leituras


Psicopatologia Geral, orientações para PAP Coordenadores PAP, José Barros e Tiago Silva
Tema específico: Depressão, diferentes leituras de contributo para uma psicopatologia humanista
 
http://saude.sapo.pt/bem-estar-e-emocao/artigos-gerais/os-porques-da-depressao.html

Divulgação e consulta no site saude.sapo.pt

Depressão

Sentimentos de tristeza, ira e frustração caracterizam esta doença psíquica

Trata-se de um distúrbio do estado de ânimo que faz com que os sentimentos de tristeza, perda, ira ou frustração interfiram com a vida quotidiana durante um período de tempo prolongado.

Existem vários tipos, nomeadamente depressão grave, distimia (ligeira e crónica), atípica (com delírios), pós-parto, pré-menstrual e sazonal.

Pode ser desencadeada por um acontecimento stressante: a morte de um amigo, uma desilusão importante, uma doença grave... Também pode ser provocada pelo consumo de drogas ou álcool, assim como pelo abuso de tranquilizantes ou anti-hipertensivos.

Sintomas


Insónia ou excesso de sono, mudanças de apetite, debilidade, baixa auto-estima, falta de concentração, irritabilidade, inactividade, ideias de suicídio e desespero.

Tratamento

Combinação de medicamentos antidepressivos e psicoterapia. Nos casos muito graves, a hospitalização pode ser necessária.

Prevenção- Recomenda-se uma alimentação rica em ácidos gordos ómega-3 (peixe azul) e ácido fólico (verduras de folha verde, fruta, legumes, ovo e frutos secos).

- Evite o consumo de álcool, tabaco, marijuana e qualquer droga psicoactiva.

- É importante fazer exercício, dormir bem e praticar uma técnica de fortalecimento interior, nomeadamente meditação, yoga, tai chi...

- Evite o isolamento e passe algum tempo com familiares e amigos.


A responsabilidade editorial desta informação é da revista



Os porquês da depressão

As perguntas que sempre quis lançar a um psiquiatra sobre a doença que, dentro de 20 anos, será a mais comum em todo o mundo

Porque nos assalta depressão? O que nos torna vulneráveis a ela? De que forma é que a atual sociedade contribui para este cenário? E que trunfos tem quem consegue escapar a esta epidemia do século XXI?

Carlos Braz Saraiva, psiquiatra e coordenador da Consulta de Prevenção do Suicídio dos Hospitais da Universidade de Coimbra, responde a estas questões, numa entrevista exclusiva à Saber Viver. Aprenda com o especialista a detetar, prevenir e lidar com esta doença.

O que distingue a tristeza da depressão?

Tristeza é um sentimento comum a todos nós, a depressão uma doença que só ocorre a alguns. Enquanto uma pessoa triste irá recuperar desse estado emocional transitório, o deprimido é alguém que tem o humor depressivo, algo profundo e persistente.

Há ainda outro sintoma cardinal: a incapacidade para sentir prazer. Depois acrescem outros sintomas: perturbações do sono, apetite, perda de peso, sentimentos de culpa, de desvalorização, perda de auto-estima, alterações da concentração, culpabilidade, ideação suicida entre outros.

A atual sociedade contribui para o avolumar dos casos de depressão?O atual ritmo de vida não se compadece com os ritmos biológicos. Quase todos nós vemos televisão em excesso, deitamo-nos tarde e somos solicitados para acordar cedo para produzir. Ora isto foge aos ritmos biológicos, naturais.

Tentamos viver contra a natureza o que tem custos: enxaquecas, insónias, irritabilidade. As pessoas tomam comprimidos para dormir e cafés para acordar. Há uma grande perversão da própria sociedade que é consequência do ritmo endiabrado exigido pela máquina de produção.

Mas só alguns de nós «quebram»....

Isso tem a ver com a carapaça psicológica. Nem todos estamos preparados para enfrentar as agruras da vida ou porque não nos ensinaram em criança, ou porque a nossa auto-estima é pobre ou porque o estímulo nefasto é demasiado grandioso ou por falta de amparo em períodos críticos do desenvolvimento.

Que armas tem quem não sofre de depressão?

Uma família que suporte emocionalmente é fundamental nos períodos críticos. Ter escapatórias sociais também. Há pessoas que graças aos seus hobbies conseguem lidar melhor com situações mais problemáticas do dia a dia. Mas também a existência de um confidente, principalmente na adolescência é importante. A pessoa sentir-se só e amargurada é meio caminho andado para ficar desesperançada.

O que contribui para que sejamos mais suscetíveis a viver uma depressão? Há a ideia de que todos temos que ser melhores do que os outros. E isto é uma ratoeira. Todos temos um ranking e não é nenhum drama não estarmos à frente. Tem de se fazer o melhor possível naquilo que se tem mais aptidões, sem ter de se sacrificar ou lutar em frenesim por uma fasquia que provavelmente é impossível de alcançar. Temos que conhecer os nossos limites. Mas não estamos preparados para aceitar pequenas perdas diárias. Não gostamos de falhar.


O stress pode ser um factor determinante na depressão?

Nem todo o stress é maligno. Quando é propulsivo, quando funciona como uma mola para as pessoas serem capazes de desempenhar as suas tarefas é benigno. O problema é a dose, o «q.b.». Enquanto que há pessoas que conseguem integrar o stress e «dar a volta ao texto» outras ficam reféns desse estímulo potencialmente doloroso que lhes vai alterar os comportamentos.

Como podemos contrariar o stress?

Um ponto essencial é a higiene do sono. As pessoas não podem ter uma vida frenética, consumir estimulantes e querer dormir. Por outro lado, os portugueses são conhecidos por ingerirem sal a mais, estarem a ficar obesos e não praticarem desportos, nem andar a pé.

Atuar a estes níveis é importante também porque o facto de as pessoas se sentirem bem melhora a autoestima, o que funciona como um escudo protetor contra determinados desaires da vida que poderão eventualmente levar a quadros depressivos.

Qual a relação entre autoestima e depressão?A baixa autoestima é uma dimensão fragilizadora que pode fazer com que uma pessoa se deprima mais facilmente e prejudicar a saída da depressão.

Indivíduos pessimistas são mais propensos a sofrer de depressão?

São. Aliás há um conceito muito curioso que é uma medida do pessimismo que é a desesperança. No fundo, é a persistência de um pessimismo que não tem a perspetiva de finitude, mas, pelo contrário, um curso longínquo. É como se fosse um pessimismo da alma que percorre meses ou anos. Essas pessoas são mais atreitas a deprimirem-se.

Qual a relação entre ansiedade e depressão? Na depressão é muito frequente existirem sintomas ansiosos que só devem ser valorizados se devido à sua severidade forem capazes de prejudicar o desempenho social, profissional, familiar. Nesses casos considera-se que é uma ansiedade excessiva e só nessa perspetiva é que devemos considerar a eventualidade de fazer a medicação específica, caso a caso.

Como se pode impedir que a ansiedade se instale?

Tem de haver um retorno ao corpo e é preciso que as pessoas encontrem tempo para desenvolverem atividades. Por exemplo nadar permite aprender a respirar e se a pessoa respirar melhor não hiperventila, não tem dores de cabeça, nem tremores, nem falta de ar.

Grande parte das doenças da ansiedade estão relacionadas com dificuldades em fazer uma respiração saudável. Para além disso, as pessoas deviam andar no mínimo 30 minutos a pé, todos os dias, em passo rápido. Depois há todo o conjunto de cuidados alimentares.

Há factores hereditários na base da depressão?Sim. Sabe-se hoje que existem certos neurotransmissores que nos quadros depressivos graves estão perturbados.

Quando se prescrevem antidepressivos procuram-se corrigir os déficits cerebrais para melhorar a sintomatologia. O problema é que se o raciocínio fosse tão linear a questão estava resolvida: davam-se comprimidos e todas as pessoas melhoravam. Na prática não é assim.


Porquê?

A questão de fundo é que não há depressão, há depressões. O modelo neurobioquímico não explica tudo o que acontece com os deprimidos. Há depressões em que os fatores persistem e, portanto, é um pouco como a ideia de estar a chover e querermos atravessar uma rua, mas como não podemos fazer a chuva parar temos que atravessar com um guarda-chuva. É isso que, muitas vezes, acontece na consulta: o doente leva o guarda-chuva mas a chuva vai continuar.

A «chuva» continua porque há outros factores envolvidos?

Exactamente. Fatores sociais, familiares. Nestes últimos, estamos a falar também de questões relacionadas com o património genético. Há determinado tipo de depressões que são hereditárias ou pelo menos as pessoas pertencentes a essas famílias têm maior probabilidade de, em determinada fase da sua vida, se deprimirem tal como os seus antepassados.

Há outras causas?

Por exemplo, segundo a teoria do desamparo aprendido determinadas pessoas chegam à conclusão de que façam o que fizerem são sempre penalizados e, portanto, o castigo é inevitável, independentemente das suas atitudes. Isto leva-as a ter uma convicção de que não vale a pena lutar. Há muitas famílias em que isto é comum. As pessoas têm um ar resignado, acreditam que nada vale a pena o que é uma dimensão depressivogénea.

Situações traumáticas podem desencadear uma depressão?Sim. Por exemplo, os homens são muito mais susceptíveis a ataques à sua honra, ao seu património e a conflitos laborais. As mulheres são mais suscetíveis a perdas amorosas, conflitos com os filhos, àquilo que se move no plano dos sentimentos. E enquanto que os homens, muitas vezes, vivem enclausurados nos seus problemas, as mulheres aproximam-se da religião, das amigas e vão ao médico.

A depressão é mais comum no sexo feminino mas isso não significa que o sofrimento dos homens não exista. As mulheres têm uma exuberância de sintomas mais patente.

O divórcio e a morte de alguém próximo podem ocasionar uma depressão?

A morte do cônjuge, o divórcio, a perda de um filho, são exemplos de acontecimentos traumáticos que muitas vezes significam uma depressão grave. Muitas vezes isso é interpretado como uma derrota pessoal. É muito comum os deprimidos distorcerem cognitivamente o facto, interpretarem-se como derrotados, em vez de o encararem como uma nova etapa da vida perante uma circunstância adversa.

É possível prevenir a depressão?

É possível prevenir algumas depressões. Agora trata-se de uma doença que existirá sempre, que provavelmente irá existir mais no século XXI e será uma das doenças mais incapacitantes. É possível intervir sobre alguns dos fatores que poderão levar a uma depressão: familiares, sociais, profissionais, stress.

Em que situações se justifica recorrer-se a um psiquiatra?

Caso uma depressão seja grave ao ponto de impedir a pessoa de funcionar no seu dia a dia. Há depressões que são relativamente ligeiras em que a pessoa, apesar de se sentir desconfortável e desanimada, ainda vai funcionando. Nesses casos, eventualmente o médico de família está apetrechado para fornecer ajuda.

É possível ultrapassar uma depressão só com a ajuda de um psicólogo?

Não. A depressão é uma doença e deve caber a um médico decidir sobre a relevância de uma psicoterapia. Em certos casos faz todo o sentido haver um acompanhamento psiquiátrico, complementado por uma intervenção psicoterapêutica, protagonizada pelo psicólogo. Mas essa é uma decisão médica.

Qual é a taxa de sucesso do tratamento da depressão?

Setenta a oitenta por cento dos doentes trata-se relativamente bem. Normalmente, o tratamento é feito durante um ano, sendo que ao fim de um mês já há resultados.

Quais podem ser as consequências de uma depressão não tratada?

A principal complicação é o suicídio. Mas há outras: a pessoa deixa de funcionar ou seja deixa de desempenhar atividades domésticas, falta ao trabalho. Também existem problemas de repercussão familiar: há divórcios por causa das depressões, por incompreensão e há situações críticas de grande tensão familiar.

Que percentagem de pessoas com depressão tenta o suicídio?
Cerca de trinta por cento pensa no suicídio e dez por cento comete suicídio, nessa depressão ou no futuro. A principal doença associada ao suicídio é a depressão, entre cinquenta a oitenta por cento dos casos, segundo os estudos.

Texto: Nazaré Tocha com Carlos Braz Saraiva (psiquiatra e coordenador da Consulta de Prevenção do Suicídio dos Hospitais da Universidade de Coimbra)
A responsabilidade editorial desta informação é da revista

As origens do conceito de ESQUIZOFRENIA: Kraepelin, Bleuler e Schneider



 
Psicopatologia Geral, orientações para PAP          Coordenadores  PAP, José Barros e Tiago Silva
Tema específico: Esquizofrenia, diferentes leituras de contributo para uma psicopatologia humanista
 
 As origens do conceito de ESQUIZOFRENIA: Kraepelin, Bleuler e Schneider




A evolução do conceito de esquizofrenia neste século

professor Helio Elkis

Departamento de Psiquiatria da FMUSP e Projeto Esquizofrenia (Projesq) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, FMUSP







O físico Stephen Hawking certa vez mencionou que, ao vermos as estrelas no céu, estamos literalmente contemplando o passado, pois apesar de muitas delas já terem desaparecido, seus raios luminosos levam muito tempo para percorrer o espaço que delas nos separa. Vemos o brilho de um objeto que pode não existir mais.

O que entendemos por esquizofrenia hoje é o fruto de um conceito que sofreu também muitas transformações. Uma cronologia dos fatos que nos últimos 100 anos influíram decisivamente para o desenvolvimento desse conceito pode trazer alguma luz para essa questão (Tabela). Dividiremos esses 100 anos em três períodos: (1) as origens: Kraepelin, Bleuler e Schneider, (2) o período de expansão do conceito e (3) o período de restrição do conceito.



 As origens do conceito: Kraepelin, Bleuler e Schneider

Geralmente se afirma que o conceito de esquizofrenia tem origem no seu ancestral, o de demência precoce, proposto por Kraepelin na 4a edição de seu tratado (e não na 5a, como é geralmente aceito).1 Kraepelin observou pacientes jovens que, após um período psicótico, sofriam um "enfraquecimento psíquico" (verblödung, em alemão), mas não necessariamente tornavam-se dementes. Isso provavelmente explica que, apesar do nome da doença, observava-se uma evolução favorável em mais de um quarto dos casos.

Kraepelin colocou a demência precoce entre os processos degenerativos na 5aedição de seu tratado e, nas subsequentes, entre os metabólicos. Entretanto, a distinção entre demência precoce e insanidade maníaco-depressiva manteve-se ao longo de todas as edições, o que deu origem à noção de "dicotomia kraepeliniana".

Kraepelin considerava que, como em toda medicina, nenhum conjunto dos sintomas poderia caracterizar qualquer patologia mental, dada sua grande mutabilidade. O curso e o desfecho da doença seriam as vias régias para tal fim. Mesmo na 8ae última edição do seu tratado, Kraepelin manteve a coerência, descrevendo com absoluta precisão todos os sintomas que hoje observam-se na esquizofrenia, sem definir qualquer um deles como central para o diagnóstico. No entanto, nessa edição mudou de posição, não em relação aos sintomas isoladamente, mas na definição de duas grandes síndromes que caracterizariam a demência precoce:2

a) "O enfraquecimento das atividades emocionais que formam as molas propulsoras da volição".

b) "A perda da unidade interna das atividades do intelecto, emoção e volição".

A "síndrome avolicional" foi identificada por muitos autores como a primeira descrição de um conjunto de sintomas posteriormente baptizados com o nome de "negativos". Já a "síndrome da perda da unidade interna", na descrição do próprio Kraepelin, "apresenta-se como no distúrbio das associações descrito por Bleuler, na incoerência do pensamento, nas mudanças intensas do humor e na inconstância do pragmatismo".2Tal afirmação não deve surpreender, pois o conceito de esquizofrenia fora proposto por Bleuler em 19083 e publicado em seu livro em 1911,4antes, portanto, de Kraepelin publicar a última edição de seu tratado. Assim, o conceito de esquizofrenia não representou simplesmente uma substituição ao de demência precoce, sendo que ambos conviveram por alguns anos.5

O que Bleuler denominava esquizofrenia, ou melhor, esquizofrenias (devido aos subtipos), não representava um conceito em oposição ao de demência precoce, mas um aperfeiçoamento de duas variáveis: a dilatação na idade de início do quadro, uma vez que o transtorno poderia aparecer tardiamente e, sobretudo, uma ênfase não no processo evolutivo (eventualmente demencial), mas na valorização de alguns sintomas que seriam denominados fundamentais para o diagnóstico. Esses constituem os famosos 6 "A" (e não 4): distúrbios das associações do pensamento, autismo, ambivalência, embotamento afetivo, distúrbios da atenção e avolição.4 Sintomas como delírios, alucinações, distúrbios do humor ou catatonia eram considerados não essenciais ao diagnóstico e, portanto, acessórios.

Apesar de Bleuler ter proposto a esquizofrenia como um conceito aperfeiçoado da demência precoce, muitos autores consideravam as mesmas entidades clínicas distintas.1 As maiores diferenças residem no fato de que as descrições kraepelinianas são puramente empíricas, ao passo que as de Bleuler são guiadas por uma teoria, na qual os sintomas fundamentais são a expressão de uma alteração cerebral subjacente e os acessórios representam uma reação da personalidade, com a emergência daquilo que Bleuler chamou de "complexos afetivamente carregados".

Essa desconexão entre sintomas fundamentais e acessórios foi também chamada de desdobramento ou cisão ("Spaltung", em alemão), o que deu origem ao termo esquizofrenia. Por outro lado, foi o primeiro mecanismo proposto para compreensão do transtorno, tendo sido recentemente retomado à luz das neurociências.6

Semelhantes ou diversos, os dois conceitos levaram a uma situação paradoxal: Kraepelin descreveu uma entidade clínica sem definir qualquer sintoma patognomónico; Bleuler, ao contrário, preocupou-se em definir tais sintomas, porém não falava em uma entidade clínica única, mas em um "grupo das esquizofrenias".1

A necessidade clínica de identificar sintomas característicos da esquizofrenia marcou também tais décadas, com Rümke em 1941, com seu "sentimento precoce", (Praecoxgefühl) e, sobretudo, com Schneider em 1948 e seus "Sintomas de primeira ordem" (SPO),7 sendo:8,9ouvir os próprios pensamentos soando alto (sonorização do pensamento); escutar vozes sob a forma de argumento e contra-argumento; escutar, com comentários, vozes que acompanham as próprias atividades; ter vivências de influência corporal; ter roubo do pensamento e outras formas de influência do pensamento; sentir tudo como sendo feito ou influenciado pelos outros no campo dos sentimentos, pulsões e vontade; e ter percepção delirante.

Os SPO de Schneider exerceram grande influência sobre a psiquiatria britânica, sobretudo na elaboração do diagnóstico de esquizofrenia pelo Present State Examination (PSE).1 O PSE foi a base para o exame de pacientes com esquizofrenia em 9 países, o que deu origem ao Estudo Piloto Internacional da Esquizofrenia (International Pilot Study of Schizophrenia, IPSS), um trabalho transcultural patrocinado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cujo objetivo era verificar invariantes da esquizofrenia. O IPSS concluiu que a esquizofrenia era um transtorno psiquiátrico universal, com alguns sintomas comuns independentes da cultura: falta de "insight", alucinações auditivas e verbais, sonorização do pensamento, embotamento afetivo, ideias e delírios de referência.7

No entanto, alguns dos colaboradores desse estudo puderam constatar que os SPO tinham grande poder discriminatório, mas não poderiam ser considerados exclusivos da esquizofrenia.10 Outros autores também observaram a presença de SPO em cerca de 25% dos pacientes com transtornos do humor.11No entanto, a importância dos SPO permaneceu, apesar das evidências em contrário, especialmente na psiquiatria britânica.

Os conceitos de Kraepelin, Bleuler e Schneider formam a base para a compreensão de esquizofrenia e fazem parte do cabedal conceitual dos psiquiatras,12estando presentes nos critérios diagnósticos que operacionalizam o conceito de esquizofrenia.9,13

A expansão do conceito

A expansão do conceito de esquizofrenia deu-se predominantemente nos Estados Unidos, sobretudo devido às influências de Meyer e Sullivan, especialmente as do último, que interpretava os conceitos bleulerianos à luz da psicanálise. Outros autores dilataram o conceito de outras formas, como Kasanim com a psicose esquizoafetiva, que abolia a dicotomia kraepeliniana, ou como Hoch e Polatin, que aproximaram a esquizofrenia dos transtornos de personalidade por meio do conceito de esquizofrenia "pseudoneurótica", levando muitos pacientes, que hoje seriam diagnosticados como bipolares ou com transtornos de personalidade, a serem diagnosticados como esquizofrénicos.

Como resultado desses fatos, a segunda edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-II), classificação de transtornos mentais da Associação Psiquiátrica Americana feita em 1968, apresenta um conceito de esquizofrenia muito amplo, com uma descrição de sintomas pouco elaborada, sendo considerado psicótico todo paciente que era "incapaz de atender às demandas da vida diária".7

Apesar de autores como Langfeld, em 1939, descreverem formas "esquizofreniformes" em oposição àquelas deteriorantes kraepelianianas, na Europa o conceito de esquizofrenia manteve-se dentro de limites mais restritos, especialmente na Inglaterra, devido à influência dos critérios Schneider e Kraepelin. O projeto US-UK (1996-1970), um estudo colaborativo entre os Estados Unidos e o Reino Unido, mostrou que os psiquiatras americanos diagnosticavam a esquizofrenia de forma muito mais ampla que os psiquiatras britânicos, incluindo no conceito casos de transtornos de personalidade e de humor.7

A restrição do conceito

A reação veio rápida no início da década de 70, quando pesquisadores da Universidade de Washington publicaram os primeiros critérios diagnósticos estruturados,14 nos quais os critérios para esquizofrenia tornaram-se restritos, com a inclusão de sintomas schneiderianos e bleulerianos, assim como de um período mínimo de doença de 6 meses (uma clara retomada do conceito evolutivo kraepeliniano). Alguns anos depois, o "Research Diagnostic Criteria" (RDC)15 trazia novos critérios, enfatizando o uso dos SPO.

A publicação da 3a edição da classificação americana (o DSM-III), em 1980, sintetiza esse período. No critério A dessa classificação, tanto sintomas bleulerianos como scheneiderianos são introduzidos. O critério B inclui a noção kraepeliniana de "deterioração a partir de um nível prévio". No C, inclui-se, além dos 6 meses de história (noção krepelineana de evolução), a distinção com a doença maníaco-depressiva.16 As edições seguintes da DSM, incluindo a edição revisada da DSM-III (DSM-III-R) (1987) e o DSM-IV (1994), mantiveram basicamente o mesmo algoritmo diagnóstico, fazendo com que o conceito de esquizofrenia do DSM se tornasse um dos mais restritos do mundo.17

Em 1974, pesquisadores que haviam participado do IPSS procuraram uma simplificação dos tipos de sintomas da esquizofrenia e, parcialmente inspirados no modelo de doença mental de Hughlings Jackson, que propõe que a mesma poderia ser melhor definida a partir de dois processos, subdividiram os sintomas da esquizofrenia em dois grandes grupos: positivos ou psicóticos (por exemplo, delírios e alucinações) e negativos ou deficitários (por exemplo, embotamento afetivo, avolição).18

A noção de sintomas positivos e negativos teve grande influência sobre o conceito de esquizofrenia, sobretudo a partir de 1980, quando Crow introduziu a ideia dedimensões positivas e negativas pelo conceito de duas "síndromes da esquizofrenia". A dimensão ou síndrome positiva (tipo I) era representada por um quadro agudo, reversível, com boa resposta ao tratamento neuroléptico, provável aumento de receptores dopaminérgicos e ausência de alterações cerebrais estruturais. A dimensão negativa (tipo II) associava-se a uma má resposta ao tratamento neuroléptico, cronicidade, provável redução de receptores dopaminérgicos e alterações cerebrais estruturais.19 Além disso, o conceito de sintomas negativos passou a figurar oficialmente dentro dos critérios A do DSM-IV.

O conceito de esquizofrenia da 9a Edição da Classificação Internacional das Doenças (CID-9) da OMS era descritivo e, em termos de descrição sintomatológica, contemplava tanto a presença de SPO quanto a de distúrbios do pensamento e embotamento afetivo, associados a delírios e alucinações. No entanto, não há referência quanto à duração da doença, o que não ocorre com a 10a e atual edição dessa classificação, a CID- 10, que a fixou em um mês, além de privilegiar a presença de SPO para o diagnóstico.20 Devido a esses aspectos, certos autores argumentam que a combinação de uma duração tão curta e a predominância da SPO dentro de seus critérios tornaram o conceito de esquizofrenia da CID-10 novamente muito amplo.17

Diferentemente do que ocorre com o conceito de depressão, que é relativamente homogéneo ou monotético, a dificuldade do conceito de esquizofrenia reside no fato de que ele é um conceito politético, heterogéneo, que alberga outros subconceitos, às vezes conflituantes entre si.17,5 Talvez por essa razão, Hoenig, que traduziu a "Psicopatologia geral" de Karl Jaspers para o inglês, tenha afirmado que o capítulo final da história do conceito de esquizofrenia ainda não foi escrito,1 o que se espera poder acontecer no próximo século.


Bom dia, continuamos a publicar as orientações para projetos PAP.
Recordo que o projeto psicossocial nas artes - entre o sonho e a realidade - centra-se em temas e conceitos estruturantes do guião dos dois teatros musicais desenvolvidos ao longo deste ano letivo:
- em "Alice no país das maravilhas" representado pelos alunos do 12I que subirá a cena no auditório da casa das artes nos dias 07/06 (6ª feira) e 08/06 (Sábado) às 22.00
- e no "Bar das Luzes" representado pelos alunos do 12H que subirá a cena no auditório da casa das artes no dia 14/06 (6ª feira) às 22.00

Assim, cada aluno desenvolveu a sua personagem num trabalho de cooperação importante e em estreita ligação com o perfil de competências essenciais definido para este curso profissional: as orientações dos projetos demonstrarão ORGANIZAÇÃO, COOPERAÇÃO E DECISÃO, INICIATIVA, EXPRESSIVIDADE, EMPENHO E MATURAÇÃO INTELECTUAL.


TEMA: distúrbios do comportamento alimentar

http://saude.sapo.pt/saude-medicina/medicacao-doencas/doencas/anorexia.html


Anorexia

O que é?

Quem mais precisa de ajuda são os jovens, quase sempre raparigas, mas a família também sofre e muito. Por isso, é essencial informar os pais.
Uma família esclarecida é fundamental para o sucesso da terapia destes distúrbios alimentares. Porque um erro, ainda que involuntário e cheio de boas intenções, pode deitar por terra todos os esforços médicos para devolver o equilíbrio às anorécticas ou bulímicas.
O que os pais precisam de saber, antes de mais, é que a anorexia e a bulimia são tentativas - pouco eficientes e altamente destrutivas - para resolver os problemas da adolescência.
As jovens que impõem a si próprias dietas compulsivas estão normalmente a tentar enfrentar ou evitar alguns dos complexos desafios da transição da infância para a idade adulta, mas não dominam as técnicas adequadas.
Tanto a anorexia como a bulimia estão relacionadas com pressões sociais que sobrevalorizam excessivamente a magreza. O uso da comida e o controlo do peso são um meio de lidar com crises de desenvolvimento e angústia emocional.

Manipulação dos alimentos
Os valores da anoréctica e da bulímica são semelhantes: ambas avaliam o corpo em função do peso e da forma, se bem que a primeira tenha preferência pela magreza extrema e a segunda fique satisfeita com um peso ligeiramente abaixo da média.
Por diversas razões, descobrem a manipulação dos seus hábitos alimentares como uma solução, que, infelizmente, resulta em muitos sentidos: chama a atenção, põe a família em sentido e dá azo a que seja a adolescente a ditar as regras.

Esta comparação não é feita com ligeireza. Pertence à autora norte-americana Katherine Byrne, que depois de uma experiência de vida conturbadíssima, mercê de uma filha que desenvolveu uma anorexia nervosa, decidiu partilhar o que aprendeu com outros pais. Assim nasceu "Anorexia e Bulimia - Um guia para pais e educadores".
É no retrato que faz das duas doenças que se baseia este artigo de Farmácia&Saúde, também ele com o fito de dar esperança aos pais que, confrontados com uma filha anoréctica ou bulímica, quase sempre carregam o fardo da culpa. A culpa de não terem sabido evitar a doença e a culpa de não serem capazes de lidar com ela sozinhos.

Anorexia - a tirania da balança

De repente a sua filha resolveu tornar-se a pessoa mais magra do mundo e pensa que vai conseguir sobreviver. Você nem sequer percebeu que isso estava a acontecer ou então subestimou as consequências desse emagrecimento, na esperança de que fosse (mais) uma fase do crescimento.
O mais certo é estar-se perante um caso de anorexia, recusa excessiva de ingestão de alimentos. Uma "magricela", na terminologia de Katherine Byrne.
Porque anoréctica é uma palavra feia para chamar a uma pessoa cuja necessidade mais profunda e urgente é que a achem bonita.
A magricela não deseja atingir um estado deplorável de emagrecimento, o que deseja é sentir-se melhor consigo própria. Suspira por algo que a torne especial, que contrarie aquilo que sente quanto ao seu aspecto.
E encontra esse "algo" no controlo da comida. Pode não ser capaz de controlar o aparecimento de assustadoras sensações sexuais, por exemplo, mas consegue controlar o que come.

Num esforço de controlo das "coisas terríveis" que a puberdade faz ao seu corpo, continua a dieta para além do normal, ficando presa ao sentimento de realização que a perda de peso lhe dá.
É a nova confiança proporcionada pela cerimónia diária de subir para a balança da casa de banho.
Afinal, as pessoas podem divergir sobre a beleza de uma rapariga, mas ninguém pode negar que se ela mede 1,60 metros e pesa 32 quilos é MAGRA!
Só que a magricela acaba sempre por se aperceber de que aquela solução "ideal" para todos os problemas, afinal não é assim tão ideal.
Quanto mais dietas faz, mais sofre com desesperados acessos de fome e mais preocupada fica com a comida e o acto de comer, ou melhor, de não comer. E fica obcecada com o que os outros comem.

O corpo é que paga
A magricela fica entre a espada e a parede. Se era vista como obediente, transforma-se em dominadora, exigente e instável, obrigando a família a ceder às suas imposições. À medida que o peso baixa, torna-se profundamente egocêntrica.
E manipula a família, impondo ementas restritas, estabelecendo horários de refeição muito rígidos, inviabilizando visitas, exigindo acesso exclusivo a certas zonas da casa, apoderando-se mesmo da balança com medo que a estraguem. Sem darem por isso, os familiares estão escravizados.

As rotinas da magricela podem tornar-se tão rígidas como treinos militares. Algumas planeiam o dia ao minuto e cumprem esses horários independentemente da interferência que possam ter na família.
O corpo sofre com os efeitos secundários das dietas excessivas: a magricela deixa de ter o período menstrual, ou, se ainda não o tem, apercebe-se de que está a ser poupada - o que lhe agrada, porque, dada a sua obsessão pela higiene, a menstrução é vista como algo repugnante. Os padrões de sono também sofrem alterações.
Os efeitos físicos da privação de alimentos começam por ser visíveis na aparência esquelética, palidez, pele seca, temperatura corporal baixa (a anoréctica está sempre com frio), lábios e dedos arroxeados.
Mas outras consequências, de natureza neurológica e endrocrinológica, estão mais escondidas. A anoréctica fica extremamente sensível a estímulos exteriores, como ruídos ou cheiros. Revela comportamentos obsessivos, perturbações de raciocínio e desordem mental.

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