terça-feira, 14 de maio de 2013

Orientações do professor Tiago Silva, consultas bibliográficas válidas.

MOTIVAÇÃO

Conceito de motivação

A motivação pode-se definir como um conjunto de necessidades (forças) internas e/ou externas que orientam e impulsionam o comportamento de um indivíduo para determinado fim.

 

Ciclo motivacional

No ciclo motivacional, distinguem-se geralmente três etapas básicas: necessidade, impulso e resposta.

 

A necessidade manifesta um estado de carência orgânica (estado de falta fisiológica ou psicológica) que desencadeia um impulso.

O impulso (ou pulsão) é a força que impele o organismo a dirigir o seu comportamento em direcção ao objectivo e activa uma resposta.

A resposta é o conjunto de acções desenvolvidas pelo indivíduo que permitem suprir a necessidade. Se o objectivo é atingido, há uma redução ou eliminação do impulso, o organismo atinge um estado de saciedade que restabelece o equilíbrio orgânico (homeostasia).

 

Motivação - suporte fisiológico

            A motivação tem como suporte fisiológico os sistema nervoso, através da influência do hipotálamo (regula as necessidades básicas, como a fome, a sede, o sono, o desejo sexual,...) e de outras estruturas cerebrais (exemplo: sistema límbico intervém nas necessidades afectivas) e os sistema endócrino, através da hipófise (regula também as necessidades básicas; controla outras glândulas) e das outras glândulas (exemplo: as glândulas sexuais interferem no comportamento sexual).

 

Motivações fisiológicas

As motivações fisiológicas são também designadas por primárias, inatas (independentes de qualquer aprendizagem), básicas ou biogénicas. São inerentes à estrutura biológica do organismo, tendo por função a manutenção do equilíbrio orgânicohomeostasia. São fundamentais para a sobrevivência do indivíduo e a sua ocorrência é independente da aprendizagem. São exemplos deste tipo de motivações a fome, a sede, o sono. Diferentes aspectos do ciclo motivacional dependem de mecanismos fisiológicos dos quais se destaca o hipotálamo. É esta estrutura que detecta situações de carência orgânica, desencadeando os processos que conduzem à manifestação do impulso que orienta o organismo para a satisfação da necessidade que vai suprir a carência e restabelecer o equilíbrio. Cabe ainda ao hipotálamo produzir a sensação de saciedade.

 

Motivações sociais

As motivações sociais são também designadas por secundárias, adquiridas, ou sociogénicas

São motivações que não têm na sua base necessidades fisiológicas, isto é, o termo motivações sociais designa os motivos adquiridos no processo de aprendizagem social, pois manifestam-se de formas diferentes de acordo com os contextos sociais e culturais em que são aprendidos.

Exemplos:

*           Necessidade de afiliação – desejo da pessoa ser aceite e estimada pelos outros. Manifesta-se na necessidade de procurar desenvolver actividades com os outros, fazer amigos, etc.

*           Necessidade de poder/prestígio – necessidade de ter uma posição de determinado nível na sociedade e de ser admirado.

*           Necessidade de realização/sucesso – a motivação de realização deve-se ao desejo de ser bem sucedido no que se faz ou em situações desafiantes.

 

 

Teorias da motivação

 

Maslow e a Hierarquia das Necessidades

Segundo Abraham Maslow, as necessidades humanas estariam organizadas numa hierarquia, representadas numa pirâmide, em que na base estariam as necessidades fisiológicas e, no cume, as necessidades mais elevadas, como as de auto-realização. Após satisfeitas as necessidades básicas, o indivíduo ascenderia a outras mais complexas e, se no decurso da sua existência não houvesse obstáculos, progrediria até ao topo. Esta pirâmide seria designada como “Pirâmide de Maslow”. Quanto mais se sobe na pirâmide mais as motivações são específicas do Homem.

1 – Necessidades Fisiológicas:

São consideradas necessidades fisiológicas, a fome, sede, sono, evitamento da dor, desejo sexual. É a satisfação destas necessidades que domina o comportamento do ser humano. Assim, as necessidades de segurança só surgem se estas estiveres satisfeitas.

2 – Necessidades de Segurança:

Estas manifestam-se na procura de protecção em relação ao meio, assim como na busca de um ambiente estável e harmonioso.

3 – Necessidades de Afecto e Pertença:

Correspondem as necessidades de estabelecer relações afectivas e ser aceite. Manifestam-se através do desejo de associação, participação e aceitação por parte dos outros. Nos grupos a que pertence, o indivíduo procura o afecto e aprovação.

4 – Necessidades de Estima:

Corresponde à necessidade de ser respeitado e reconhecido pelo seu desempenho. Segundo Maslow, estas necessidades assumem duas expressões: desejo de realização e competência e o estatuto e desejo de reconhecimento, ou seja, as pessoas desejam ser competentes, desenvolver actividades com sucesso e ser reconhecidas através do seu mérito pessoal.

5 Necessidades de Auto-Realização:

Se no decorrer do percurso que vai da base ao topo, todas as necessidades estiverem satisfeitas, a necessidade de auto-satisfação manifestar-se-á.. É um tipo de motivação que se manifestaria pela necessidade de o indivíduo desenvolver as suas potencialidades pessoais, obter sucesso e êxito e, assim, atingir a sua realização pessoal.

Essa realização varia de indivíduo para indivíduo. As pessoas que procuram a auto-realização apresentam algumas características comuns de personalidade: são independentes, criadoras, resistem ao conformismo, aceitam-se a si próprias e aos outros.

Maslow considerava que vários indivíduos na nossa sociedade não realizavam as suas necessidades de auto-realização, daí a apatia e a alienação.

 

As necessidades deficitárias são aquelas que exprimem o desejo de reduzir carências. Caso não sejam satisfeitas podem levar a comportamentos agressivos. (1,2,3,4). As necessidades de crescimento ou de ser  traduzem o desejo de expansão do eu. (5).

 


Música e Saúde

1.   Aprendemos com as lições da história

A ideia de que a música afecta a saúde e o bem-estar das pessoas já era conhecida por Platão e Aristóteles. Apenas na segunda metade do século XX, porém, os médicos conseguiram estabelecer uma relação entre a música e a recuperação de seus pacientes.

No final da Segunda Guerra Mundial, músicos foram chamados para tocar em hospitais como forma de auxiliar o tratamento dos feridos. Como a experiência surtiu resultados positivos, as autoridades médicas dos Estados Unidos decidiram habilitar profissionais para utilizar criteriosamente a música como terapia. O primeiro curso de musicoterapia foi criado em 1944, na Universidade Estadual de Michigan.

2.   Conceito de musicoterapia – um instrumento de saúde e equilíbrio

A música pode representar mais que uma habilidade para tocar um instrumento ou cantar. Pode ser um instrumento de saúde, desenvolvendo potenciais, actuando na prevenção ou no tratamento de questões como o stress. A musicoterapia é uma modalidade que pode ser usada individualmente, em família ou em grupo.

Por meio dos sons, podemos sensibilizar e estimular a inteligência humana. É o que mostra a musicoterapia, ao buscar desenvolver potenciais, restaurar funções de saúde do indivíduo através de reabilitação, prevenção ou tratamento.

É uma modalidade de trabalho que se utiliza da música e de elementos constituintes da música numa relação terapêutica para ajudar a pessoa a atender as suas necessidades. Destina-se a pessoas que têm alguma deficiência, algum distúrbio psíquico como depressão, autismo, esquizofrenia, assim como a atendimentos geriátricos ou pessoas que buscam auto-desenvolvimento”.

Pesquisas revelaram que as ondas sonoras provocam movimento do protoplasma celular; sementes estimuladas musicalmente possuem traços aprimorados… A música afecta o nível de várias hormonas, inclusive o cortisol (responsável pela excitação e pelo stress), testosterona (responsável pela agressividade e pela excitação) e a oxitocina (responsável pelo carinho). Assim como as endorfinas, a serotonina (neurotransmissor que faz a comunicação entre os neurónios).

3.   As vantagens de terapia pela música no desenvolvimento humano

O treino musical favorece o desenvolvimento cognitivo, atenção, a memória, a agilidade motora, assim como cria uma experiência unidade entre linguagem, música e movimento. Pitágoras dava à terapia pela música o nome de purificação (catharsis). A sua música curativa propunha-se a equilibrar as quatro funções básicas do ser humano: “Pensar, sentir, perceber e intuir”.

“A música responde a uma fonte poética de criatividade através de um cérebro que ressoa em resposta às solicitações de um cosmos que lhe fala.” O facto de geralmente encontrarmos acordes e intervalos consonantes em diferentes culturas musicais parece ser causado, portanto, uma tendência herdada dos mamíferos de preferirem tais combinações sonoras (consonantes).

Esse facto implica que deve existir alguma predisposição neurobiológica que faz com que determinadas combinações sonoras soem de um jeito especial ao ser humano. Quando as ondas sonoras alcançam o ouvido, o tímpano é accionado como uma membrana microfone, que vibra com a frequência do som.

Bibliografia:

Música e Saúde - Even Ruud - e Summus Editorial

 

 

4.     A música serve de terapia para todas as idades.

Contribui para o bem-estar geral do organismo e para a saúde plena do indivíduo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) formulou em 1946 a seguinte definição de saúde:

“A saúde é um estado de total bem estar físico, psíquico e social e não apenas a ausência de doenças ou debilidade. Gozar da melhor saúde possível é direito de todo homem, independente de raça, religião, convicção política ou situação económica e social.”

Meditando sobre essa definição, percebemos o quanto a música contribui para esse bem-estar físico, psíquico e social.

Sabemos que nenhum ser humano é uma ilha isolada e, a integração social é importantíssima desde a concepção da vida. Alguns indivíduos já são extrovertidos por natureza, outros mais tímidos e retraídos, nesses casos a música serve como um elo entre eles e os outros, d´-se um fenómeno de socialização comportamental.

Por meio das apresentações em público nas escolas, casas da cultura, igrejas, clubes, bares, casas de eventos, conservatórios e teatros, esses indivíduos vão vencendo a timidez, tornando-se mais sociáveis, felizes, crescendo sua auto estima, levando assim a uma saúde proporcionalmente mais completa.

O prazer em criar e executar música torna-se o “centro encefálico da felicidade” que contribui para a saúde dos executantes e ouvintes que recebem esses estímulos sonoros e agradáveis. Desde tenra idade a criança começa a emitir sons musicais, mesmo antes de balbuciar as primeiras palavras. Ela reage positivamente a canções, aprende-as antes de conhecer todos os sentidos das palavras e conseguir emiti-las completamente.

5.   Os estigmas sociais podem ser superados.

A experiência demonstra que pessoas de classe social mais baixa possuem menor expectativa de qualidade de vida do que pessoas de classe social mais alta, porém, encontramos nessa classe humilde, grandes músicos compositores que por meio da música se tornaram famosos encontrando o sentido de uma vida mais saudável e feliz. Outros, ao contrário, não sabendo utilizar a relação positiva entre a música e a saúde, deixaram-se perder na boémia da noite e alcoolismo, perecendo prematuramente.

Uma maneira agradável de conquistar a saúde é por meio da música clássica ou erudita, pois, equilibra o sistema nervoso, desfaz o stress, regulando as batidas do coração. A descontracção e o relaxamento total ao executar ou apreciar uma peça musical é uma experiência que favorece a capacidade de sentir prazer, alegria e felicidade que proporciona bem-estar e saúde emocional, reflectindo e contribuindo para a saúde geral do indivíduo.

Normalmente as pessoas de espírito positivo, que amam o que fazem, que reservam parte de seu tempo para o crescimento cultural, emocional, espiritual e para o condicionamento físico e lazer, são pessoas que vivem mais, mais felizes e com boa saúde. Quando é desenvolvido o talento da música, ela permite a criatividade, liberdade de expressão, igualdade entre as classes sociais, maior calor nos relacionamentos humanos, maior dignidade e respeito pelo próximo, maior amor às artes e ao ser humano.

Ora, a vida parece ter sentido quando existem objetivos, quando dispomos de valores essenciais, os quais podem ser encontrados na filosofia, moral, patriotismo, religião e obras sociais, e, também quando as pessoas se sentem valiosas e importantes na sociedade. Nesse caso pensamos que a música aumenta a autoestima, a memória, a coordenação motora e a acomodação do indivíduo na sociedade, colaborando assim para uma formação e informação organizada, harmoniosa e saudável.

Fonte: Gerson Gorski Damaceno * Doutor em Educação Musical
Ana Maria N. Gorski Damaceno* Mestre, Pianista Concertista

 

6.   Outra realidade onde a musicoterapia tem uma utilização crescente diz respeito ao aumento exponencial de idosos institucionalizados.

O internamento do idoso em lares surge, normalmente, da impossibilidade da família em tomar conta do seu velho ou na sequência do stress e/ou esgotamento físico do cuidador após doença prolongada do idoso, falta de tempo ou intolerância à senilidade.

Desenraizados e vulneráveis, a música tem a dita de amenizar as mudanças radicais que os idosos enfrentam quando são internados, os imensos fatores de desestabilização a que ficam sujeitos, desde as novas regras do dia-a-dia até à coabitação com pessoas desconhecidas e que não escolheram para compartilhar o espaço e a vida, e, sobretudo, a perda dos vínculos com familiares, amigos e vizinhos. Os idosos sentem-se isolados, desvalorizados, desprovidos de autoestima e, muitas vezes, da própria identidade.

O facto de a população portuguesa estar cada vez mais envelhecida exige políticas de saúde específicas, mormente viradas para a conservação da capacidade funcional dos seniores. Atualmente, buscam-se novas modalidades de tratamento, com uma abordagem multidisciplinar, no sentido da concepção da pessoa idosa com um todo, harmonizando estrutura física e mental. Neste contexto, a utilização da música revela-se um meio eficaz na solução de conflitos internos, na expressão de emoções, na evocação de lembranças e no reavivamento de factos inconscientes. A memória reativada converte a velhice em tempo de recordar, dando azo a reconstruir e reviver episódios significativos da sua juventude e repensar, com as imagens do presente, as experiências do passado.
Ouvir música é saudável para toda a gente. Alivia tensões, ajuda a refletir, transporta-nos para cenários de prazer, cura-nos. Qual a importância da música na sua saúde a na sua vida? Cantar pode até não espantar os males, como apregoa a sabedoria popular, mas a utilização de sons, ritmos e melodias ajuda a restabelecer a saúde de alguns pacientes. É o que garantem médicos das mais diferentes especialidades, que utilizam a musicoterapia como recurso terapêutico no tratamento multidisciplinar de inúmeras doenças, como hipertensão, enfermidades cardiovasculares e até carcinomas.
O efeito terapêutico da música, porém, vai muito além do aspecto tranquilizante de uma sonata de Bach ou uma sinfonia de Beethoven. Estudos garantem que a música potencializa a reabilitação de pacientes em casos de doenças degenerativas do cérebro, como Parkinson e Alzheimer, melhora a coordenação motora de deficientes físicos e induz a liberação de certas substâncias, como dopamina e serotonina, que proporcionam sensação de prazer e bem-estar.

Musicoterapia

Cantar é a respiração estruturada com efeito fisiológico que se transforma em massagem para o intestino e em alívio para o coração. Essa respiração fornece ar adicional aos pulmões, impulsiona a circulação sanguínea e melhora a concentração e a memória. Cantar nos harmoniza e também reforça o sistema imunológico. Desde o final da segunda guerra a música passou a ser utilizada também de forma terapêutica por um profissional musicoterapeuta graduado e/ou pós-graduado. Foi necessária esta especialidade para tentar minimizar as graves sequelas causadas pela guerra. Em todos os continentes, cursos e associações foram criados e a formação deste profissional que utiliza esta arte com objetivos terapêutico e científico na saúde e qualidade de vida passou cada vez mais a ser valorizada e utilizada. Surgiu a Musicoterapia.

 

 

 


“Que tem a música a ver com filosofia?”


 

Vítor Guerreiro

Universidade do Porto

Suponhamos que alguém crê equivocadamente que a sociologia é a arte de ser sociável. Provavelmente essa pessoa franzirá o sobrolho ao ouvir alguém associar sociologia e, digamos, estatística. A estatística não serve para criar ambiente e é pouco apropriada para conversas ligeiras.

A relação entre música e filosofia é vítima de um equívoco verbal semelhante. A filosofia é para muitos a arte de ser sociável através de palavras caras, afirmações vagas e muitas citações de indivíduos que já morreram e cujos nomes têm uma sonoridade mística. De modo que as crenças das pessoas a respeito desta relação tendem a distribuir-se por dois extremos (chamemos-lhes liberais e cépticos): há os que acreditam que uma sequência de sons musicais pode ser literalmente filosofia, e há os que acreditam que a relação entre música e filosofia é inexistente. Quer por pensarem, no caso dos primeiros, que qualquer associação de ideias é “filosófica” (e compor música envolve sempre a associação de ideias musicais), quer por pensarem, no caso dos segundos, que a música é algo cujo domínio exige disciplina e rigor, e pouco tem a ver com o tipo de “socialização” indisciplinada a que me referi. Já a relação entre a música e outras áreas de investigação, em particular as de cariz empírico, é muito menos vítima deste género de equívoco.

Que tem a música a ver com a história? Não é difícil ver a ligação. A história estuda os acontecimentos do passado. As convenções musicais em que os músicos e compositores trabalham, o modo de construir instrumentos, o tipo de instrumentos que se constrói, a notação musical, o ensino da música sofrem transformações ao longo do tempo e estudar essas coisas com a metodologia do historiador ajuda-nos a compreender a sua evolução. Ajuda-nos a responder a perguntas como: “por que há orquestras?”, “de onde vem a notação musical?”, “como surgiram as escalas e modos actuais?” A ligação com outras áreas, como a psicologia e a sociologia é também fácil de compreender. Sabendo qual o objecto de estudo dessas disciplinas e como nelas se trabalha, compreende-se facilmente quais os aspectos da música que podem ser produtivamente tratados pela psicologia e pela sociologia. Conseguimos imaginar sem dificuldade o género de perguntas a que estes investigadores tentam responder — “como funciona a aprendizagem musical?”, “o que acontece nas nossas cabeças quando ouvimos música?”, “que formas de música estão relacionadas com estas ou aquelas actividades ou classes sociais?”

Estas perguntas têm em comum o facto de, para lhes darmos resposta, termos de fazer mais do que reflectir cuidadosamente. Supõem o uso de procedimentos empíricos e o único modo de conhecermos a verdade das respostas é inspeccionando indícios físicos, informação experimental e estatística. Podemos não conhecer com exactidão o género de trabalho que se faz em psicologia da música ou em sociologia da música, mas compreendemos intuitivamente o interesse que a música pode ter para um psicólogo ou um sociólogo, tal como compreendemos intuitivamente o objecto da musicologia evolucionista (mesmo quando ouvimos a expressão pela primeira vez), o interesse que a música pode ter para um biólogo que estuda o canto das baleias ou das aves ou a origem da música humana.

Ao passo que é difícil imaginar claramente o género de perguntas a que um filósofo da música pode tentar responder, há uma uniformidade de expectativas quanto ao que deviam ser as suas respostas: ou respostas filosóficas para problemas empíricos (uma inversão do cientificismo, que envolve querer dar respostas empíricas a problemas filosóficos) ou juízos valorativos sobre composições e interpretações particulares. Aqui as opiniões dividem-se novamente entre os liberais e os cépticos, que partilham as mesmas expectativas relativamente à filosofia mas discordam quanto à capacidade desta para chegar a resultados. Assim, por exemplo, pode-se achar ou que a filosofia responderá a perguntas como “Qual a origem da música nos seres humanos?” (que é uma pergunta empírica e não filosófica), ou que não responderá a esse género de perguntas mas que devia fazê-lo, se fosse cognitivamente interessante. As expectativas e desilusões são semelhantes no que respeita à emissão de juízos críticos particulares.

Isto explica-se pela incompreensão do que seja um problema filosófico e pelo facto de na escola termos sido treinados para resolver ou problemas empíricos cuja solução foi já testada, ou problemas cuja resolução envolve procedimentos formais, como fazer cálculos. Por isso é tão comum confundir objectividade com escrutínio de factos e medições, imaginando-se a filosofia da música ou como uma rival das disciplinas empíricas, ou como algo “subjectivo”, muito semelhante à crítica musical mas com mais palavras caras por centímetro quadrado.

A filosofia da música não procura substituir-se à investigação empírica sobre música nem à crítica musical. Procura resolver problemas que envolvem perplexidades reais e exigem solução, não são meramente verbais; e problemas insusceptíveis de serem resolvidos empiricamente. De que género de problemas se trata? Por exemplo, i) a definição de música; ii) explicar o facto de a mesma obra poder ter várias ocorrências sonoras cujas propriedades diferem, sem que isso afecte a sua identidade; iii) explicar em que consiste o poder expressivo da música; iv) saber o que é “compreender” uma obra musical; v) saber se a música tem conteúdo representacional; vi) se tem propriedades morais; vii) saber o que é o valor da música. Embora não seja exaustiva, a lista representa o género de problemas a que o filósofo da música procura responder. Trata-se de problemas acerca da realidade das entidades musicais (composições, obras, interpretações, improvisações), das suas propriedades e estatuto ontológico (que género de entidades são) e problemas acerca do conhecimento e experiência que temos delas. A estética musical é um subconjunto desses problemas. Não se confunde com coisas como a “defesa de uma estética...” em que no lugar vazio colocamos um adjectivo qualquer, por exemplo, “vanguardista”, “conservadora”, “realista”, etc. Também não se confunde com elogios às atitudes políticas de um compositor. A estética musical ocupa-se de problemas como os seguintes: saber em que consiste a beleza musical; o que distingue as experiências musicais, se algo o faz; que propriedades de uma obra ou performance são relevantes para a apreciação estética e, já agora, o que isso é.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário