quinta-feira, 23 de maio de 2013


Bom dia, continuamos a publicar as orientações para projetos PAP.
Recordo que o projeto psicossocial nas artes - entre o sonho e a realidade - centra-se em temas e conceitos estruturantes do guião dos dois teatros musicais desenvolvidos ao longo deste ano letivo:
- em "Alice no país das maravilhas" representado pelos alunos do 12I que subirá a cena no auditório da casa das artes nos dias 07/06 (6ª feira) e 08/06 (Sábado) às 22.00
- e no "Bar das Luzes" representado pelos alunos do 12H que subirá a cena no auditório da casa das artes no dia 14/06 (6ª feira) às 22.00

Assim, cada aluno desenvolveu a sua personagem num trabalho de cooperação importante e em estreita ligação com o perfil de competências essenciais definido para este curso profissional: as orientações dos projetos demonstrarão ORGANIZAÇÃO, COOPERAÇÃO E DECISÃO, INICIATIVA, EXPRESSIVIDADE, EMPENHO E MATURAÇÃO INTELECTUAL.


TEMA: distúrbios do comportamento alimentar

http://saude.sapo.pt/saude-medicina/medicacao-doencas/doencas/anorexia.html


Anorexia

O que é?

Quem mais precisa de ajuda são os jovens, quase sempre raparigas, mas a família também sofre e muito. Por isso, é essencial informar os pais.
Uma família esclarecida é fundamental para o sucesso da terapia destes distúrbios alimentares. Porque um erro, ainda que involuntário e cheio de boas intenções, pode deitar por terra todos os esforços médicos para devolver o equilíbrio às anorécticas ou bulímicas.
O que os pais precisam de saber, antes de mais, é que a anorexia e a bulimia são tentativas - pouco eficientes e altamente destrutivas - para resolver os problemas da adolescência.
As jovens que impõem a si próprias dietas compulsivas estão normalmente a tentar enfrentar ou evitar alguns dos complexos desafios da transição da infância para a idade adulta, mas não dominam as técnicas adequadas.
Tanto a anorexia como a bulimia estão relacionadas com pressões sociais que sobrevalorizam excessivamente a magreza. O uso da comida e o controlo do peso são um meio de lidar com crises de desenvolvimento e angústia emocional.

Manipulação dos alimentos
Os valores da anoréctica e da bulímica são semelhantes: ambas avaliam o corpo em função do peso e da forma, se bem que a primeira tenha preferência pela magreza extrema e a segunda fique satisfeita com um peso ligeiramente abaixo da média.
Por diversas razões, descobrem a manipulação dos seus hábitos alimentares como uma solução, que, infelizmente, resulta em muitos sentidos: chama a atenção, põe a família em sentido e dá azo a que seja a adolescente a ditar as regras.

Esta comparação não é feita com ligeireza. Pertence à autora norte-americana Katherine Byrne, que depois de uma experiência de vida conturbadíssima, mercê de uma filha que desenvolveu uma anorexia nervosa, decidiu partilhar o que aprendeu com outros pais. Assim nasceu "Anorexia e Bulimia - Um guia para pais e educadores".
É no retrato que faz das duas doenças que se baseia este artigo de Farmácia&Saúde, também ele com o fito de dar esperança aos pais que, confrontados com uma filha anoréctica ou bulímica, quase sempre carregam o fardo da culpa. A culpa de não terem sabido evitar a doença e a culpa de não serem capazes de lidar com ela sozinhos.

Anorexia - a tirania da balança

De repente a sua filha resolveu tornar-se a pessoa mais magra do mundo e pensa que vai conseguir sobreviver. Você nem sequer percebeu que isso estava a acontecer ou então subestimou as consequências desse emagrecimento, na esperança de que fosse (mais) uma fase do crescimento.
O mais certo é estar-se perante um caso de anorexia, recusa excessiva de ingestão de alimentos. Uma "magricela", na terminologia de Katherine Byrne.
Porque anoréctica é uma palavra feia para chamar a uma pessoa cuja necessidade mais profunda e urgente é que a achem bonita.
A magricela não deseja atingir um estado deplorável de emagrecimento, o que deseja é sentir-se melhor consigo própria. Suspira por algo que a torne especial, que contrarie aquilo que sente quanto ao seu aspecto.
E encontra esse "algo" no controlo da comida. Pode não ser capaz de controlar o aparecimento de assustadoras sensações sexuais, por exemplo, mas consegue controlar o que come.

Num esforço de controlo das "coisas terríveis" que a puberdade faz ao seu corpo, continua a dieta para além do normal, ficando presa ao sentimento de realização que a perda de peso lhe dá.
É a nova confiança proporcionada pela cerimónia diária de subir para a balança da casa de banho.
Afinal, as pessoas podem divergir sobre a beleza de uma rapariga, mas ninguém pode negar que se ela mede 1,60 metros e pesa 32 quilos é MAGRA!
Só que a magricela acaba sempre por se aperceber de que aquela solução "ideal" para todos os problemas, afinal não é assim tão ideal.
Quanto mais dietas faz, mais sofre com desesperados acessos de fome e mais preocupada fica com a comida e o acto de comer, ou melhor, de não comer. E fica obcecada com o que os outros comem.

O corpo é que paga
A magricela fica entre a espada e a parede. Se era vista como obediente, transforma-se em dominadora, exigente e instável, obrigando a família a ceder às suas imposições. À medida que o peso baixa, torna-se profundamente egocêntrica.
E manipula a família, impondo ementas restritas, estabelecendo horários de refeição muito rígidos, inviabilizando visitas, exigindo acesso exclusivo a certas zonas da casa, apoderando-se mesmo da balança com medo que a estraguem. Sem darem por isso, os familiares estão escravizados.

As rotinas da magricela podem tornar-se tão rígidas como treinos militares. Algumas planeiam o dia ao minuto e cumprem esses horários independentemente da interferência que possam ter na família.
O corpo sofre com os efeitos secundários das dietas excessivas: a magricela deixa de ter o período menstrual, ou, se ainda não o tem, apercebe-se de que está a ser poupada - o que lhe agrada, porque, dada a sua obsessão pela higiene, a menstrução é vista como algo repugnante. Os padrões de sono também sofrem alterações.
Os efeitos físicos da privação de alimentos começam por ser visíveis na aparência esquelética, palidez, pele seca, temperatura corporal baixa (a anoréctica está sempre com frio), lábios e dedos arroxeados.
Mas outras consequências, de natureza neurológica e endrocrinológica, estão mais escondidas. A anoréctica fica extremamente sensível a estímulos exteriores, como ruídos ou cheiros. Revela comportamentos obsessivos, perturbações de raciocínio e desordem mental.

A responsabilidade editorial e científica desta informação é da

terça-feira, 14 de maio de 2013

Coordenação de projetos, professor Tiago Silva e José Barros.

APRENDIZAGEM

Conceito de Aprendizagem

Aquisição ou mudança relativamente estável e duradoura de comportamentos ou processos mentais, resultante da uma interacção com o meio, de alguma forma de exercício, experiência, treino ou estudo.

 

A aprendizagem é um factor essencial de mudança (pessoal e social) de atitudes e comportamentos. A aprendizagem determina o pensamento, a linguagem, as motivações, as atitudes e a personalidade. A aprendizagem implica comportamentos perceptivos, motores, intelectuais, emocionais e sociais. Não há aprendizagem sem memória; a memória permite reter o que aprendemos. A memória constitui uma espécie de base de dados que possibilita responder às situações presentes e projectar as situações futuras.

 

 

A aprendizagem social

A aprendizagem social foi estudada por Bandura. Segundo este psicólogo, é no contexto das interacções sociais que se aprendem comportamentos que nos permitem viver em sociedade e desenvolver capacidades especificamente humanas (como ler, escrever, falar, etc.).

A aprendizagem social resulta da observação dos comportamentos dos outros e da imitação desses comportamentos, sobretudo daqueles cujas consequências são entendidas como positivas. Os comportamentos observados são imitados, quando o indivíduo se identifica com o modelo social. A aprendizagem social desenrola-se ao longo der toda a vida.

Bandura designa este processo por modelação. Neste tipo de aprendizagem, o reforço tem uma grande importância na medida em que, ao observar o modelo que foi reforçado (reforço vicariante), ou ao receber o reforço a seguir ao comportamento desejado (reforço directo), o sujeito integra um novo comportamento no seu quadro de respostas. Por outro lado, pode surgir o efeito desinibitório (Ex: Se os pais exibem comportamentos agressivos a criança apresentará também comportamentos agressivos) ou inibitório (Ex: Se a agressividade é criticada pelos pais a criança inibe-a.)

Segundo Bandura, tenderíamos a imitar modelos sociais significativos, isto é, pessoas que são mais susceptíveis de se tornarem modelos (pela proximidade afectiva, a idade, o género e o estatuto social).

 

 

 

Desenvolvimento e socialização

A família tem um papel decisivo no processo de socialização, isto é, no processo de integração do indivíduo na sociedade. É neste grupo que a criança aprende os comportamentos, valores, normas e atitudes vigentes numa dada sociedade.

Um dos aspectos mais importantes do desenvolvimento psicológico e social do bebé é o estabelecimento de uma primeira relação afectiva recíproca e duradoura, normalmente com a mãe, a que se chama vinculação. Esta vinculação manifesta-se a partir dos 7/8 meses e caracteriza-se pela procura de proximidade em relação a mãe; pela ansiedade e tristeza em caso de separação; e pela orientação das acções do bebé para a mãe.

A relação mãe-bebé tem um papel muito importante no processo de socialização. É esta díade mãe-bebé que vai permitir que a criança adapte o seu comportamento ao meio envolvente e aos outros: esta relação tem uma função adaptativa, quer favorecendo a sobrevivência da espécie, quer proporcionando segurança emocional.

 

As crianças desde que nascem são capazes de interagir com o meio e realizam as primeiras interacções com a mãe.
É através da interacção mãe-bebé que a criança aprende a atribuir significados aos comportamentos dos outros e às situações. A qualidade desta relação precoce entre a mãe e o bebé, vão ter uma grande influência no desenvolvimento futuro da criança: na sua personalidade, auto-estima, confiança em si própria, na forma como se relacionará com os outros e o modo como encarará as situações.

 

Estudos etológicos revelaram que a necessidade de contacto corporal e proximidade física são mais importantes que a necessidade de alimentação. Esta necessidade de agarrar, de estar junto à mãe denomina-se de contacto do conforto.

Segundo Bowlby, a necessidade de vinculação (apego, attachement), isto é, a necessidade de estabelecimento de contacto e de laços emocionais entre o bebé e a mãe e outras pessoas próximas é um fenómeno biologicamente determinado.

A carência afectiva materna tem repercussões que acarretam perturbações físicas, afectivas ou mentais durante esse período ou na vida futura, como, por exemplo, o hospitalismo (depressão vivida por crianças a quem faltou a presença materna).


MOTIVAÇÂO

Conceito de motivação

A motivação pode-se definir como um conjunto de necessidades (forças) internas e/ou externas que orientam e impulsionam o comportamento de um indivíduo para determinado fim.

 

Ciclo motivacional

No ciclo motivacional, distinguem-se geralmente três etapas básicas: necessidade, impulso e resposta.

A necessidade manifesta um estado de carência orgânica (estado de falta fisiológica ou psicológica) que desencadeia um impulso.

O impulso (ou pulsão) é a força que impele o organismo a dirigir o seu comportamento em direcção ao objectivo e activa uma resposta.

A resposta é o conjunto de acções desenvolvidas pelo indivíduo que permitem suprir a necessidade. Se o objectivo é atingido, há uma redução ou eliminação do impulso, o organismo atinge um estado de saciedade  que restabelece o equilíbrio orgânico (homeostasia).

 

Motivação - suporte fisiológico

            A motivação tem como suporte fisiológico os sistema nervoso, através da influência do hipotálamo (regula as necessidades básicas, como a fome, a sede, o sono, o desejo sexual,...) e de outras estruturas cerebrais (exemplo: sistema límbico intervém nas necessidades afectivas) e os sistema endócrino, através da hipófise (regula também as necessidades básicas; controla outras glândulas) e das outras glândulas (exemplo: as glândulas sexuais interferem no comportamento sexual).

 

Motivações fisiológicas

As motivações fisiológicas são também designadas por primárias, inatas (independentes de qualquer aprendizagem), básicas ou biogénicas. São inerentes à estrutura biológica do organismo, tendo por função a manutenção do equilíbrio orgânicohomeostasia. São fundamentais para a sobrevivência do indivíduo e a sua ocorrência é independente da aprendizagem. São exemplos deste tipo de motivações a fome, a sede, o sono. Diferentes aspectos do ciclo motivacional dependem de mecanismos fisiológicos dos quais se destaca o hipotálamo. É esta estrutura que detecta situações de carência orgânica, desencadeando os processos que conduzem à manifestação do impulso que orienta o organismo para a satisfação da necessidade que vai suprir a carência e restabelecer o equilíbrio. Cabe ainda ao hipotálamo produzir a sensação de saciedade.

 

Motivações sociais

As motivações sociais são também designadas por secundárias, adquiridas, ou sociogénicas

São motivações que não têm na sua base necessidades fisiológicas, isto é, o termo motivações sociais designa os motivos adquiridos no processo de aprendizagem social, pois manifestam-se de formas diferentes de acordo com os contextos sociais e culturais em que são aprendidos.

Exemplos:

*           Necessidade de afiliação – desejo da pessoa ser aceite e estimada pelos outros. Manifesta-se na necessidade de procurar desenvolver actividades com os outros, fazer amigos, etc.

*           Necessidade de poder/prestígio – necessidade de ter uma posição de determinado nível na sociedade e de ser admirado.

*           Necessidade de realização/sucesso – a motivação de realização deve-se ao desejo de ser bem sucedido no que se faz ou em situações desafiantes.

 

 

Motivações combinadas

As motivações combinadas, ainda que dependam de factores orgânicos, não são essenciais à sobrevivência do indivíduo, nem à manutenção do equilíbrio interno do organismo (ou homeostasia). São muito marcadas pela aprendizagem, pelos padrões culturais vigentes. Designam-se por combinadas, porque combinam factores biológicos/inatos e factores sociais/adquiridos.

Os comportamentos sexual e maternal são exemplos de actividades que, embora tendo um fundo biológico, apresentam no caso humano, uma grande flexibilidade, ou seja, a motivação subjacente a estas actividades não é essencialmente controlada por sustemos fisiológicos.

Assim, sem negar a importância relativa dos aspectos hormonais, vestígios de comportamentos de raiz evolutiva, o comportamento sexual e o comportamento maternal são, em larga medida, regulados pela aprendizagem, por normas socioculturais e por expectativas e preferências individuais.

 

 

O comportamento sexual

O comportamento sexual é uma motivação combinada, porque depende de:

Mecanismos fisiológicos – depende do sistema endócrino, concretamente das glândulas sexuais, da hipófise e do hipotálamo. É o início do funcionamento das glândulas sexuais na adolescência que dá início ao desejo sexual. Depende ainda do hipotálamo.

Factores sociais e culturais – a expressão da sexualidade depende da aprendizagem do indivíduo num determinado contexto social, variando no tempo e de cultura para cultura.

 

O comportamento maternal

O comportamento maternal é uma motivação combinada, porque apesar de existirem bases fisiológicas (exemplo: hormonas produzidas durante a gravidez), grande parte dos comportamentos maternais são aprendidos através do processo de socialização, estando ligados aos padrões culturais de diferentes sociedades.

 


                         

Teorias da motivação

 

Maslow e a Hierarquia das Necessidades

Segundo Abraham Maslow, as necessidades humanas estariam organizadas numa hierarquia, representadas numa pirâmide, em que na base estariam as necessidades fisiológicas e, no cume, as necessidades mais elevadas, como as de auto-realização. Após satisfeitas as necessidades básicas, o indivíduo ascenderia a outras mais complexas e, se no decurso da sua existência não houvesse obstáculos, progrediria até ao topo. Esta pirâmide seria designada como “Pirâmide de Maslow”. Quanto mais se sobe na pirâmide mais as motivações são específicas do Homem.

1 – Necessidades Fisiológicas:

São consideradas necessidades fisiológicas, a fome, sede, sono, evitamento da dor, desejo sexual. É a satisfação destas necessidades que domina o comportamento do ser humano. Assim, as necessidades de segurança só surgem se estas estiveres satisfeitas.

2 – Necessidades de Segurança:

Estas manifestam-se na procura de protecção em relação ao meio, assim como na busca de um ambiente estável e harmonioso.

3 – Necessidades de Afecto e Pertença:

Correspondem as necessidades de estabelecer relações afectivas e ser aceite. Manifestam-se através do desejo de associação, participação e aceitação por parte dos outros. Nos grupos a que pertence, o indivíduo procura o afecto e aprovação.

 

4 – Necessidades de Estima:

Corresponde à necessidade de ser respeitado e reconhecido pelo seu desempenho. Segundo Maslow, estas necessidades assumem duas expressões: desejo de realização e competência e o estatuto e desejo de reconhecimento, ou seja, as pessoas desejam ser competentes, desenvolver actividades com sucesso e ser reconhecidas através do seu mérito pessoal.

5 Necessidades de Auto-Realização:

Se no decorrer do percurso que vai da base ao topo, todas as necessidades estiverem satisfeitas, a necessidade de auto-satisfação manifestar-se-á.. É um tipo de motivação que se manifestaria pela necessidade de o indivíduo desenvolver as suas potencialidades pessoais, obter sucesso e êxito e, assim, atingir a sua realização pessoal.

Essa realização varia de indivíduo para indivíduo. As pessoas que procuram a auto-realização apresentam algumas características comuns de personalidade: são independentes, criadoras, resistem ao conformismo, aceitam-se a si próprias e aos outros.

Maslow considerava que vários indivíduos na nossa sociedade não realizavam as suas necessidades de auto-realização, daí a apatia e a alienação.

 

As necessidades deficitárias são aquelas que exprimem o desejo de reduzir carências. Caso não sejam satisfeitas podem levar a comportamentos agressivos. (1,2,3,4). As necessidades de crescimento ou de ser traduzem o desejo de expansão do eu. (5).

 

 

 

 

 
Orientações do professor Tiago Silva, consultas bibliográficas válidas.

MOTIVAÇÃO

Conceito de motivação

A motivação pode-se definir como um conjunto de necessidades (forças) internas e/ou externas que orientam e impulsionam o comportamento de um indivíduo para determinado fim.

 

Ciclo motivacional

No ciclo motivacional, distinguem-se geralmente três etapas básicas: necessidade, impulso e resposta.

 

A necessidade manifesta um estado de carência orgânica (estado de falta fisiológica ou psicológica) que desencadeia um impulso.

O impulso (ou pulsão) é a força que impele o organismo a dirigir o seu comportamento em direcção ao objectivo e activa uma resposta.

A resposta é o conjunto de acções desenvolvidas pelo indivíduo que permitem suprir a necessidade. Se o objectivo é atingido, há uma redução ou eliminação do impulso, o organismo atinge um estado de saciedade que restabelece o equilíbrio orgânico (homeostasia).

 

Motivação - suporte fisiológico

            A motivação tem como suporte fisiológico os sistema nervoso, através da influência do hipotálamo (regula as necessidades básicas, como a fome, a sede, o sono, o desejo sexual,...) e de outras estruturas cerebrais (exemplo: sistema límbico intervém nas necessidades afectivas) e os sistema endócrino, através da hipófise (regula também as necessidades básicas; controla outras glândulas) e das outras glândulas (exemplo: as glândulas sexuais interferem no comportamento sexual).

 

Motivações fisiológicas

As motivações fisiológicas são também designadas por primárias, inatas (independentes de qualquer aprendizagem), básicas ou biogénicas. São inerentes à estrutura biológica do organismo, tendo por função a manutenção do equilíbrio orgânicohomeostasia. São fundamentais para a sobrevivência do indivíduo e a sua ocorrência é independente da aprendizagem. São exemplos deste tipo de motivações a fome, a sede, o sono. Diferentes aspectos do ciclo motivacional dependem de mecanismos fisiológicos dos quais se destaca o hipotálamo. É esta estrutura que detecta situações de carência orgânica, desencadeando os processos que conduzem à manifestação do impulso que orienta o organismo para a satisfação da necessidade que vai suprir a carência e restabelecer o equilíbrio. Cabe ainda ao hipotálamo produzir a sensação de saciedade.

 

Motivações sociais

As motivações sociais são também designadas por secundárias, adquiridas, ou sociogénicas

São motivações que não têm na sua base necessidades fisiológicas, isto é, o termo motivações sociais designa os motivos adquiridos no processo de aprendizagem social, pois manifestam-se de formas diferentes de acordo com os contextos sociais e culturais em que são aprendidos.

Exemplos:

*           Necessidade de afiliação – desejo da pessoa ser aceite e estimada pelos outros. Manifesta-se na necessidade de procurar desenvolver actividades com os outros, fazer amigos, etc.

*           Necessidade de poder/prestígio – necessidade de ter uma posição de determinado nível na sociedade e de ser admirado.

*           Necessidade de realização/sucesso – a motivação de realização deve-se ao desejo de ser bem sucedido no que se faz ou em situações desafiantes.

 

 

Teorias da motivação

 

Maslow e a Hierarquia das Necessidades

Segundo Abraham Maslow, as necessidades humanas estariam organizadas numa hierarquia, representadas numa pirâmide, em que na base estariam as necessidades fisiológicas e, no cume, as necessidades mais elevadas, como as de auto-realização. Após satisfeitas as necessidades básicas, o indivíduo ascenderia a outras mais complexas e, se no decurso da sua existência não houvesse obstáculos, progrediria até ao topo. Esta pirâmide seria designada como “Pirâmide de Maslow”. Quanto mais se sobe na pirâmide mais as motivações são específicas do Homem.

1 – Necessidades Fisiológicas:

São consideradas necessidades fisiológicas, a fome, sede, sono, evitamento da dor, desejo sexual. É a satisfação destas necessidades que domina o comportamento do ser humano. Assim, as necessidades de segurança só surgem se estas estiveres satisfeitas.

2 – Necessidades de Segurança:

Estas manifestam-se na procura de protecção em relação ao meio, assim como na busca de um ambiente estável e harmonioso.

3 – Necessidades de Afecto e Pertença:

Correspondem as necessidades de estabelecer relações afectivas e ser aceite. Manifestam-se através do desejo de associação, participação e aceitação por parte dos outros. Nos grupos a que pertence, o indivíduo procura o afecto e aprovação.

4 – Necessidades de Estima:

Corresponde à necessidade de ser respeitado e reconhecido pelo seu desempenho. Segundo Maslow, estas necessidades assumem duas expressões: desejo de realização e competência e o estatuto e desejo de reconhecimento, ou seja, as pessoas desejam ser competentes, desenvolver actividades com sucesso e ser reconhecidas através do seu mérito pessoal.

5 Necessidades de Auto-Realização:

Se no decorrer do percurso que vai da base ao topo, todas as necessidades estiverem satisfeitas, a necessidade de auto-satisfação manifestar-se-á.. É um tipo de motivação que se manifestaria pela necessidade de o indivíduo desenvolver as suas potencialidades pessoais, obter sucesso e êxito e, assim, atingir a sua realização pessoal.

Essa realização varia de indivíduo para indivíduo. As pessoas que procuram a auto-realização apresentam algumas características comuns de personalidade: são independentes, criadoras, resistem ao conformismo, aceitam-se a si próprias e aos outros.

Maslow considerava que vários indivíduos na nossa sociedade não realizavam as suas necessidades de auto-realização, daí a apatia e a alienação.

 

As necessidades deficitárias são aquelas que exprimem o desejo de reduzir carências. Caso não sejam satisfeitas podem levar a comportamentos agressivos. (1,2,3,4). As necessidades de crescimento ou de ser  traduzem o desejo de expansão do eu. (5).

 


Música e Saúde

1.   Aprendemos com as lições da história

A ideia de que a música afecta a saúde e o bem-estar das pessoas já era conhecida por Platão e Aristóteles. Apenas na segunda metade do século XX, porém, os médicos conseguiram estabelecer uma relação entre a música e a recuperação de seus pacientes.

No final da Segunda Guerra Mundial, músicos foram chamados para tocar em hospitais como forma de auxiliar o tratamento dos feridos. Como a experiência surtiu resultados positivos, as autoridades médicas dos Estados Unidos decidiram habilitar profissionais para utilizar criteriosamente a música como terapia. O primeiro curso de musicoterapia foi criado em 1944, na Universidade Estadual de Michigan.

2.   Conceito de musicoterapia – um instrumento de saúde e equilíbrio

A música pode representar mais que uma habilidade para tocar um instrumento ou cantar. Pode ser um instrumento de saúde, desenvolvendo potenciais, actuando na prevenção ou no tratamento de questões como o stress. A musicoterapia é uma modalidade que pode ser usada individualmente, em família ou em grupo.

Por meio dos sons, podemos sensibilizar e estimular a inteligência humana. É o que mostra a musicoterapia, ao buscar desenvolver potenciais, restaurar funções de saúde do indivíduo através de reabilitação, prevenção ou tratamento.

É uma modalidade de trabalho que se utiliza da música e de elementos constituintes da música numa relação terapêutica para ajudar a pessoa a atender as suas necessidades. Destina-se a pessoas que têm alguma deficiência, algum distúrbio psíquico como depressão, autismo, esquizofrenia, assim como a atendimentos geriátricos ou pessoas que buscam auto-desenvolvimento”.

Pesquisas revelaram que as ondas sonoras provocam movimento do protoplasma celular; sementes estimuladas musicalmente possuem traços aprimorados… A música afecta o nível de várias hormonas, inclusive o cortisol (responsável pela excitação e pelo stress), testosterona (responsável pela agressividade e pela excitação) e a oxitocina (responsável pelo carinho). Assim como as endorfinas, a serotonina (neurotransmissor que faz a comunicação entre os neurónios).

3.   As vantagens de terapia pela música no desenvolvimento humano

O treino musical favorece o desenvolvimento cognitivo, atenção, a memória, a agilidade motora, assim como cria uma experiência unidade entre linguagem, música e movimento. Pitágoras dava à terapia pela música o nome de purificação (catharsis). A sua música curativa propunha-se a equilibrar as quatro funções básicas do ser humano: “Pensar, sentir, perceber e intuir”.

“A música responde a uma fonte poética de criatividade através de um cérebro que ressoa em resposta às solicitações de um cosmos que lhe fala.” O facto de geralmente encontrarmos acordes e intervalos consonantes em diferentes culturas musicais parece ser causado, portanto, uma tendência herdada dos mamíferos de preferirem tais combinações sonoras (consonantes).

Esse facto implica que deve existir alguma predisposição neurobiológica que faz com que determinadas combinações sonoras soem de um jeito especial ao ser humano. Quando as ondas sonoras alcançam o ouvido, o tímpano é accionado como uma membrana microfone, que vibra com a frequência do som.

Bibliografia:

Música e Saúde - Even Ruud - e Summus Editorial

 

 

4.     A música serve de terapia para todas as idades.

Contribui para o bem-estar geral do organismo e para a saúde plena do indivíduo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) formulou em 1946 a seguinte definição de saúde:

“A saúde é um estado de total bem estar físico, psíquico e social e não apenas a ausência de doenças ou debilidade. Gozar da melhor saúde possível é direito de todo homem, independente de raça, religião, convicção política ou situação económica e social.”

Meditando sobre essa definição, percebemos o quanto a música contribui para esse bem-estar físico, psíquico e social.

Sabemos que nenhum ser humano é uma ilha isolada e, a integração social é importantíssima desde a concepção da vida. Alguns indivíduos já são extrovertidos por natureza, outros mais tímidos e retraídos, nesses casos a música serve como um elo entre eles e os outros, d´-se um fenómeno de socialização comportamental.

Por meio das apresentações em público nas escolas, casas da cultura, igrejas, clubes, bares, casas de eventos, conservatórios e teatros, esses indivíduos vão vencendo a timidez, tornando-se mais sociáveis, felizes, crescendo sua auto estima, levando assim a uma saúde proporcionalmente mais completa.

O prazer em criar e executar música torna-se o “centro encefálico da felicidade” que contribui para a saúde dos executantes e ouvintes que recebem esses estímulos sonoros e agradáveis. Desde tenra idade a criança começa a emitir sons musicais, mesmo antes de balbuciar as primeiras palavras. Ela reage positivamente a canções, aprende-as antes de conhecer todos os sentidos das palavras e conseguir emiti-las completamente.

5.   Os estigmas sociais podem ser superados.

A experiência demonstra que pessoas de classe social mais baixa possuem menor expectativa de qualidade de vida do que pessoas de classe social mais alta, porém, encontramos nessa classe humilde, grandes músicos compositores que por meio da música se tornaram famosos encontrando o sentido de uma vida mais saudável e feliz. Outros, ao contrário, não sabendo utilizar a relação positiva entre a música e a saúde, deixaram-se perder na boémia da noite e alcoolismo, perecendo prematuramente.

Uma maneira agradável de conquistar a saúde é por meio da música clássica ou erudita, pois, equilibra o sistema nervoso, desfaz o stress, regulando as batidas do coração. A descontracção e o relaxamento total ao executar ou apreciar uma peça musical é uma experiência que favorece a capacidade de sentir prazer, alegria e felicidade que proporciona bem-estar e saúde emocional, reflectindo e contribuindo para a saúde geral do indivíduo.

Normalmente as pessoas de espírito positivo, que amam o que fazem, que reservam parte de seu tempo para o crescimento cultural, emocional, espiritual e para o condicionamento físico e lazer, são pessoas que vivem mais, mais felizes e com boa saúde. Quando é desenvolvido o talento da música, ela permite a criatividade, liberdade de expressão, igualdade entre as classes sociais, maior calor nos relacionamentos humanos, maior dignidade e respeito pelo próximo, maior amor às artes e ao ser humano.

Ora, a vida parece ter sentido quando existem objetivos, quando dispomos de valores essenciais, os quais podem ser encontrados na filosofia, moral, patriotismo, religião e obras sociais, e, também quando as pessoas se sentem valiosas e importantes na sociedade. Nesse caso pensamos que a música aumenta a autoestima, a memória, a coordenação motora e a acomodação do indivíduo na sociedade, colaborando assim para uma formação e informação organizada, harmoniosa e saudável.

Fonte: Gerson Gorski Damaceno * Doutor em Educação Musical
Ana Maria N. Gorski Damaceno* Mestre, Pianista Concertista

 

6.   Outra realidade onde a musicoterapia tem uma utilização crescente diz respeito ao aumento exponencial de idosos institucionalizados.

O internamento do idoso em lares surge, normalmente, da impossibilidade da família em tomar conta do seu velho ou na sequência do stress e/ou esgotamento físico do cuidador após doença prolongada do idoso, falta de tempo ou intolerância à senilidade.

Desenraizados e vulneráveis, a música tem a dita de amenizar as mudanças radicais que os idosos enfrentam quando são internados, os imensos fatores de desestabilização a que ficam sujeitos, desde as novas regras do dia-a-dia até à coabitação com pessoas desconhecidas e que não escolheram para compartilhar o espaço e a vida, e, sobretudo, a perda dos vínculos com familiares, amigos e vizinhos. Os idosos sentem-se isolados, desvalorizados, desprovidos de autoestima e, muitas vezes, da própria identidade.

O facto de a população portuguesa estar cada vez mais envelhecida exige políticas de saúde específicas, mormente viradas para a conservação da capacidade funcional dos seniores. Atualmente, buscam-se novas modalidades de tratamento, com uma abordagem multidisciplinar, no sentido da concepção da pessoa idosa com um todo, harmonizando estrutura física e mental. Neste contexto, a utilização da música revela-se um meio eficaz na solução de conflitos internos, na expressão de emoções, na evocação de lembranças e no reavivamento de factos inconscientes. A memória reativada converte a velhice em tempo de recordar, dando azo a reconstruir e reviver episódios significativos da sua juventude e repensar, com as imagens do presente, as experiências do passado.
Ouvir música é saudável para toda a gente. Alivia tensões, ajuda a refletir, transporta-nos para cenários de prazer, cura-nos. Qual a importância da música na sua saúde a na sua vida? Cantar pode até não espantar os males, como apregoa a sabedoria popular, mas a utilização de sons, ritmos e melodias ajuda a restabelecer a saúde de alguns pacientes. É o que garantem médicos das mais diferentes especialidades, que utilizam a musicoterapia como recurso terapêutico no tratamento multidisciplinar de inúmeras doenças, como hipertensão, enfermidades cardiovasculares e até carcinomas.
O efeito terapêutico da música, porém, vai muito além do aspecto tranquilizante de uma sonata de Bach ou uma sinfonia de Beethoven. Estudos garantem que a música potencializa a reabilitação de pacientes em casos de doenças degenerativas do cérebro, como Parkinson e Alzheimer, melhora a coordenação motora de deficientes físicos e induz a liberação de certas substâncias, como dopamina e serotonina, que proporcionam sensação de prazer e bem-estar.

Musicoterapia

Cantar é a respiração estruturada com efeito fisiológico que se transforma em massagem para o intestino e em alívio para o coração. Essa respiração fornece ar adicional aos pulmões, impulsiona a circulação sanguínea e melhora a concentração e a memória. Cantar nos harmoniza e também reforça o sistema imunológico. Desde o final da segunda guerra a música passou a ser utilizada também de forma terapêutica por um profissional musicoterapeuta graduado e/ou pós-graduado. Foi necessária esta especialidade para tentar minimizar as graves sequelas causadas pela guerra. Em todos os continentes, cursos e associações foram criados e a formação deste profissional que utiliza esta arte com objetivos terapêutico e científico na saúde e qualidade de vida passou cada vez mais a ser valorizada e utilizada. Surgiu a Musicoterapia.

 

 

 


“Que tem a música a ver com filosofia?”


 

Vítor Guerreiro

Universidade do Porto

Suponhamos que alguém crê equivocadamente que a sociologia é a arte de ser sociável. Provavelmente essa pessoa franzirá o sobrolho ao ouvir alguém associar sociologia e, digamos, estatística. A estatística não serve para criar ambiente e é pouco apropriada para conversas ligeiras.

A relação entre música e filosofia é vítima de um equívoco verbal semelhante. A filosofia é para muitos a arte de ser sociável através de palavras caras, afirmações vagas e muitas citações de indivíduos que já morreram e cujos nomes têm uma sonoridade mística. De modo que as crenças das pessoas a respeito desta relação tendem a distribuir-se por dois extremos (chamemos-lhes liberais e cépticos): há os que acreditam que uma sequência de sons musicais pode ser literalmente filosofia, e há os que acreditam que a relação entre música e filosofia é inexistente. Quer por pensarem, no caso dos primeiros, que qualquer associação de ideias é “filosófica” (e compor música envolve sempre a associação de ideias musicais), quer por pensarem, no caso dos segundos, que a música é algo cujo domínio exige disciplina e rigor, e pouco tem a ver com o tipo de “socialização” indisciplinada a que me referi. Já a relação entre a música e outras áreas de investigação, em particular as de cariz empírico, é muito menos vítima deste género de equívoco.

Que tem a música a ver com a história? Não é difícil ver a ligação. A história estuda os acontecimentos do passado. As convenções musicais em que os músicos e compositores trabalham, o modo de construir instrumentos, o tipo de instrumentos que se constrói, a notação musical, o ensino da música sofrem transformações ao longo do tempo e estudar essas coisas com a metodologia do historiador ajuda-nos a compreender a sua evolução. Ajuda-nos a responder a perguntas como: “por que há orquestras?”, “de onde vem a notação musical?”, “como surgiram as escalas e modos actuais?” A ligação com outras áreas, como a psicologia e a sociologia é também fácil de compreender. Sabendo qual o objecto de estudo dessas disciplinas e como nelas se trabalha, compreende-se facilmente quais os aspectos da música que podem ser produtivamente tratados pela psicologia e pela sociologia. Conseguimos imaginar sem dificuldade o género de perguntas a que estes investigadores tentam responder — “como funciona a aprendizagem musical?”, “o que acontece nas nossas cabeças quando ouvimos música?”, “que formas de música estão relacionadas com estas ou aquelas actividades ou classes sociais?”

Estas perguntas têm em comum o facto de, para lhes darmos resposta, termos de fazer mais do que reflectir cuidadosamente. Supõem o uso de procedimentos empíricos e o único modo de conhecermos a verdade das respostas é inspeccionando indícios físicos, informação experimental e estatística. Podemos não conhecer com exactidão o género de trabalho que se faz em psicologia da música ou em sociologia da música, mas compreendemos intuitivamente o interesse que a música pode ter para um psicólogo ou um sociólogo, tal como compreendemos intuitivamente o objecto da musicologia evolucionista (mesmo quando ouvimos a expressão pela primeira vez), o interesse que a música pode ter para um biólogo que estuda o canto das baleias ou das aves ou a origem da música humana.

Ao passo que é difícil imaginar claramente o género de perguntas a que um filósofo da música pode tentar responder, há uma uniformidade de expectativas quanto ao que deviam ser as suas respostas: ou respostas filosóficas para problemas empíricos (uma inversão do cientificismo, que envolve querer dar respostas empíricas a problemas filosóficos) ou juízos valorativos sobre composições e interpretações particulares. Aqui as opiniões dividem-se novamente entre os liberais e os cépticos, que partilham as mesmas expectativas relativamente à filosofia mas discordam quanto à capacidade desta para chegar a resultados. Assim, por exemplo, pode-se achar ou que a filosofia responderá a perguntas como “Qual a origem da música nos seres humanos?” (que é uma pergunta empírica e não filosófica), ou que não responderá a esse género de perguntas mas que devia fazê-lo, se fosse cognitivamente interessante. As expectativas e desilusões são semelhantes no que respeita à emissão de juízos críticos particulares.

Isto explica-se pela incompreensão do que seja um problema filosófico e pelo facto de na escola termos sido treinados para resolver ou problemas empíricos cuja solução foi já testada, ou problemas cuja resolução envolve procedimentos formais, como fazer cálculos. Por isso é tão comum confundir objectividade com escrutínio de factos e medições, imaginando-se a filosofia da música ou como uma rival das disciplinas empíricas, ou como algo “subjectivo”, muito semelhante à crítica musical mas com mais palavras caras por centímetro quadrado.

A filosofia da música não procura substituir-se à investigação empírica sobre música nem à crítica musical. Procura resolver problemas que envolvem perplexidades reais e exigem solução, não são meramente verbais; e problemas insusceptíveis de serem resolvidos empiricamente. De que género de problemas se trata? Por exemplo, i) a definição de música; ii) explicar o facto de a mesma obra poder ter várias ocorrências sonoras cujas propriedades diferem, sem que isso afecte a sua identidade; iii) explicar em que consiste o poder expressivo da música; iv) saber o que é “compreender” uma obra musical; v) saber se a música tem conteúdo representacional; vi) se tem propriedades morais; vii) saber o que é o valor da música. Embora não seja exaustiva, a lista representa o género de problemas a que o filósofo da música procura responder. Trata-se de problemas acerca da realidade das entidades musicais (composições, obras, interpretações, improvisações), das suas propriedades e estatuto ontológico (que género de entidades são) e problemas acerca do conhecimento e experiência que temos delas. A estética musical é um subconjunto desses problemas. Não se confunde com coisas como a “defesa de uma estética...” em que no lugar vazio colocamos um adjectivo qualquer, por exemplo, “vanguardista”, “conservadora”, “realista”, etc. Também não se confunde com elogios às atitudes políticas de um compositor. A estética musical ocupa-se de problemas como os seguintes: saber em que consiste a beleza musical; o que distingue as experiências musicais, se algo o faz; que propriedades de uma obra ou performance são relevantes para a apreciação estética e, já agora, o que isso é.